1.6.11

Sobre natureza

E se tem uma coisa que eu já percebi é que eu, você e eles (e os outros também, por que não!?) somos como uns tontos andarilhos se questionando se estamos realmente indo pra frente e puxa, será que a gente nunca vai entender que todo lado é a frente se a gente estiver olhando para ele?
Somos como uns tontos andarilhos, com os bolsos furados ainda por cima.
A gente vai por aí colhendo as bugigangas que aparecem sabe-se lá deus ou o diabo da onde bem no meio do nosso caminho e a gente pega elas e a gente põe nos bolsos e nem repara quando elas se espatifam no chão logo em seguida.
A gente continua indo e assoviando e achando que quando chegarmos (e onde é que é "lá" mesmo hein?) vamos ter um quinquilhão de coisas para esparramar sobre a mesa do jantar para tentar justificar para nós mesmos tamanho cansaço nas pernas, tamanha falta de ar. Pra dar uma razão pra todo o esforço.
Porque andar cansa.
E sabe, cansa muito mais ainda quando a gente acha que tá carregando se não o mundo todo, pelo menos boa parte dele.
Mas é tudo tão psicológico... e isso é que é o pior.
A gente pensa que tem que arrastar nossos pesos por aí, e quem olha de longe acha que é uma enorme piada a gente encurvado assim por motivo nenhum.
Porque se a gente olhasse direito a gente perceberia que a única coisa que a gente carrega com a gente é a lembrança e a lembrança pesa no peito e não nas costas, e não nas mãos.
A gente carrega lá bem fundo, talvez, a lembrança daquele algo que a gente coletou uns quilômetros atrás e nem sabe que perdeu... mas isso se é que a gente olhou bem o bastante para se lembrar como é que era.
Porque a maioria das coisas é assim: a gente pega porque tá alí, porque se não pegar outro pega.
E, afinal, o outro já tem coisas demais não é mesmo?
Daí a gente sai por aí que nem uns loucos tentando pegar tudo o que dá como se o alarme fosse apitar a qualquer momento anunciando o ganhador da grande gincana que deus criou pra nós.
E a gente pega tanta coisa, tanta areia, que não sobra tempo pra garimpar e o ouro fica sambando, completamente irreconhecível, no meio do farelo do lixo.
E o lixo e o ouro vão escoando pelas nossas mãos, pelos nossos bolsos, estrada à fora.
E a gente não vê e a gente só vê quando dá vontade de chorar e a gente mete a mão na mochila pra achar o lencinho gente boa e ele não está mais lá.
E como é que a gente vai chorar sem ele?
Quando a gente quer chorar e ver que ele não tá mais lá a gente pára e a gente olha direito e é bem aí que a gente percebe o nosso tudo que virou nada e a gente deixou que virasse.
É aí que a gente percebe que a gente só tem (e olhe lá!) a roupa do corpo e uma certa rouquidão - que até a voz a gente já perdeu com o susto.
É aí que a gente percebe os tontos que somos, é aí que a gente senta numa pedra e é aí que a gente desiste de tudo.
É aí que a gente resolve que quer ser mais esperto sábio e se livrar então de tudo de uma vez:
A gente se despe por alí mesmo, olha pro alto e diz que "cabou-se".
Mas a gente é o que a gente é e a gente não pode mudar nada disso.
Tontos andarilhos nascemos, tontos andarilhos morreremos.
Dalí a duas horas é a gente pensando como é que vai fazer pra pedra caber na pochete.

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