12.9.11

Diário de bordo II

"I've been so far from here, far from your warm arms."
E escuridão, e desleixo e lama.
E montes de gentes por todos os lados sujos da chuva que cai do chão.
E uma cerca e alguém que escalava em desespero que logo por trás viriam as leoas não apenas esfomeadas, mas treinadas para sentir fome.
E alguém rastejava e lá na frente o carro já dava a partida.
Ou simplesmente se mantinha na ameaça.
O homem sentado ao volante tinha até tempo para esperar o verme que vinha se arrastando com a cara agarrada ao chão, o que ele não tinha era paciência.
O homem ao volante não dizia nada, só que o homem ao volante tinha palavras estampadas nas pupilas e nas iris e nas rachaduras dos lábios.
Quer quisesse quer não, ele dizia montes de coisas.
"It's good to feel you again, it's been a long long time..."
Certas coisas são recíprocas de uma forma estranha.
O sujeito pôs então o outro pra dentro e foram os dois pra um quarto fechado onde não havia leoas e não havia lama - exceto aquela que se agarrou aos pulmões durante o trajeto.
E o homem ao volante, agora era apenas "o homem".
E o carpete do quarto cinzento fedia a despreparo.
O verme agora assumia a forma de uma mulher, ou o que o mundo pretendia que fosse uma.
"Hasn't it?"
Ela questionava coisas várias a respeito de coisas várias e as respostas continuavam vindo somente através de dilatações de pupilas e demais sutilezas faciais.
O problema é que agora incomodava.
O show já não existia mais, que não existe guerra e não existe competição por trás daquela porta trancada.
Agora era a hora de o verme e o "apenas homem" resolverem as questões que ficaram pendentes antes de o cara lá fora gritar que o jogo iria começar.
Mas o apenas homem é ainda uma capsula impenetrável, criadora dos próprios jogos de adivinhação.
E verme gostaria de saber brincar, ele gostaria com toda a força do mundo.
Mas ele não sabe.
Ele deita a cabeça no travesseiro e (finge que) dorme.

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