28.9.11

Exodus I

Eu andava pela cidade grande com as duas mãos no bolso do casaco e um chapéu imaginário na cabeça.
Aos trombões atravessava dúzias de ruas, uma atrás da outra, meio que contornando prédios e mais prédios.
(Tem gente que não faz o contorno, tem gente que não usa casaco nem no inverno...)
Uma menina cara-pálida de batom exageradamente vermelho segurava uma garrafa de whisky cinco palmos acima da própria cabeça - um troféu.
Ela não era mais uma menina, mas ainda não sabia disso, apesar de fingir que sim.
Usava um vestido de listras azul e branco e um cintinho de gente rica. Não usava chapéu.
(Nem real nem imaginário.)
E, penso eu, tem quem levante a voz pra falar de diferença de raça!
Se um dia eu for abandonar o engasgo da minha garganta, vai ser pra trovejar é que não sou menina de condecorações e que minha cintura não precisa de um cintinho pra existir debaixo dos panos; que contorno prédios mesmo que isso não sirva pra nada e que de exibicionistas o mundo já se encheu: é por isso que a minha mão cheia de anéis de ródio e o cacete a quatro há de permanecer dentro dos meus bolsos até que eu trombe com alguém que mereça vê-los.
(E quem sabe este também não tenha os olhos certos pra enxergar o meu chapéu?)

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