16.9.11

Sobre os quatro outros dedos

Fico me desdizendo por aí e repetindo em outros termos aquela coisa sem forma que perambula mendiguenta aqui dentro.
Cada hora mudo de ideia sobre a mesma ideia de sempre.
Meus colegas colchão, parede e abajur não me aguentam nem mais um minuto, já disseram.
Sinto prazer em me contradizer, em exercer réu e promotoria de uma vezada só.
As luzes da cidade tremelicam insatisfeitas com a minha falta de rumo, que elas já apontaram rumos vários e eu dei de ombros. Feri seus orgulhos com meu descaso navalhado.
Eu quis ir pra cima e pro avesso onde não existe trajeto só existe impossibilidade e os postes de luz não alcançam tão longe. Chamei-os fracassados.
Eles me rebateram com escuro.
Dane-se.
No escuro eu descobri umas texturas descaradamente fora de contexto.
Que é que pele de jacaré faz no seu rosto?
E eu que na claridade achava que fosse como pêssego!
Só é no escuro é que a gente descobre as asperezas, os cheiros ruins.
E me dá vontade de rir dos desenganos do mundo...
E colchão e parede e abajur que achavam que fossem firmes, se mostraram não menos que fajutos quando perderam o semblante estático que a luz concede aos seus destinatários.
No escuro a gente não vê o chão e a gente não vê o teto e no escuro não existe caminho, só as passadas desnorteadas. A única certeza é o incerto.
E quero ver agora quem é que vai tascar na minha cara alegações várias a respeito da minha falta de foco.

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