2.10.11

Me dê um bom motivo...

"...para não excluí-la da minha vida? Você me fez muito mal, estou me livrando de pessoas assim."


Daí ele ia colocando na pilha de sacos mais um cadáver, enquanto eu olhava embasbacada o lunático de menos de vinte falando com rouquidão de homem feito.

"Eu só queria sentar na porra do seu lado e olhar as estrelas, saber que alguém se importava e que eu não estava completamente sozinho."


Ele estava tentando ser salvo por um algo completamente imaginário, enraizado nos confins do pensamento humano, chamado "amor".
E estava, pasme!, vindo falar comigo de solidão! Logo comigo!
Que audacioso!

Ele continuou, meio que assim:

"Eu só queria saber que alguém poderia sentir algo por mim, me dar algo que não custaria nada..."

O céu era cheio de estrelas, aquele tipo de estrela que é meramente bola de fogo e nada além disso, aquele tipo de estrela que não tem nada a ver com coração e sentimento e blablablá de encheção de saco de poeta amargurado.
E eu olhava pro alto e via essas tais dessas estrelas, as estrelas de verdade, sozinha, enquanto ele olhava pra mim de olhos vendados crentes que eu era realmente aquilo que as artimanhas de seu cérebro perturbado haviam criado por conta própria.

Ele me vinha com essa, essa de "dar algo", quase uma da manhã!, falando de preços de coisas, preços de pessoas, preços de sentimentos... Um monte de baboseiras!
Algumas coisas não têm mesmo preço, mas isso não significa que estejam por aí para serem pegas por qualquer um que passar.
Minha companhia para noites estreladas, por exemplo, já não está mais na vitrine.
Essa já levaram, e foi isso que eu falei quando dei meu primeiro passo pra trás e ia indo cada vez mais pra lá enquanto ele por sua vez continuava murmurando pros cadáveres imaginários mais um monte de porcarias a respeito de chances, padrões e vida!
VIDA! Sim senhores, a respeito de vida!
Pessoas que enterram coisas só sabem de mortes e, na melhor das hipóteses, delas mesmas.

Desapareci por trás de um salgueiro e, de certa forma e para o bem de todos, dentro de uma cova das mais fundas.

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