25.11.11

Decomposição

Fecha os olhos pro dia quando percebe que a visão de uma semana inteira (quiça mais de uma!) é tempo demais.
Pensa que um farelo de pão talvez pudesse aniquilar um homem, se na velocidade certa, se na direção certa.
Não falará mais de venenos com as nuvens como costumava fazer.
Quando as coisas são de verdade a gente senta e olha (a gente, os covardes) e não fica mais tentando dizer.
Nunca foi de evitar assuntos, nem de evitar prazos, nem de evitar visões.
Só que todas as coisas mudam. E essa sentença é mais uma das coisas que agora evita.
Não quer mudar, não quer trocar de coração e sentir outros sentimentos.
Sempre achou que fosse uma boneca russa e que dentro de si havia outra e depois outra e depois outra.
Agora que lhe tentam enfincar órgãos de outrem no seu íntimo é que percebe que, ainda que vasta, nunca nada ali deixou de lhe pertencer e ter seu cheiro.
Quantas camadas tivesse, uma dentro da outra, todas elas convertiam as pulsações desordenadas e divergentes em uma bela de uma sinfonia.
E agora tentam macular o conjunto.
Uma semana é tempo demais e a qualquer momento qualquer coisinha ridícula atingirá velocidade suficiente para destruir-lhe até a última boneca.
Não dá pra viver na paranoia, isso já sabe de longa data.
Quer reduzir-se a qualquer coisa que não tenha consciência do tempo, que não tenha consciência das feiuras...
Se demora olhando uma piaçava de vassoura esquecida no cantinho do tapete e então lhe envia uma mensagem telepática cheia de esperanças: "Quer trocar tua alma pela minha?"

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