1.11.11

Exodus II

Não sei o que estou fazendo, me perdi.
Não sei que linha do metrô é essa, não sei quem é que são esses que tentam me dizer em que estação eu parei, pra que estação eu tenho que ir, etc, etc.
Vejo com curiosidade que ela, a menina do lado de dentro do trem, prefere não se sentar apesar de quase todos os lugares estarem vagos.
Ela se mantém de pé, num saltinho discreto mas bom o bastante para dar aquela levantada estratégica na panturrilha. O cabelo dela é oleoso, e ela é bonita mesmo assim.
Já eu me visto como um trapo. Ainda que coberta de brilhantes, eu estaria vestida como um trapo, eu sei disso.
É que eu não sei ser cabide pra moda, é que eu só sei ser cabide pra problemas.
Parece que passam pelas minhas tangentes e penduram nos meus ombros e pescoço toneladas de palavras inúteis (tenho preguiça de lê-las!).
Mas ninguém me passa a mão na cabeça para me ajeitar os fios soltos.
Nem eu.
Mas espera, acho que me expressei mal... acho que eu sei exatamente onde estou, não me perdi.
A questão na verdade, agora vejo,  é se é aqui mesmo que eu deveria estar, se é mesmo esse trem ou se é o da esquerda. Sobre a estação eu sei, sobre a linha eu sei, sobre o trem eu sei, sobre o percurso eu sei, sobre a menina eu sei (e até sobre o shampoo que ela usa , eu sei). Só que eu não sei de mim.
A porta continua aberta, por sabe-se lá quantos segundos mais, mas eu não consigo dar o passo adiante com tantas bagagens verbais à tiracolo, com tantos diamantes (teóricos) mal vestidos por todo o corpo.
E me dá vontade de rir, porque não importa o que me diga o joalheiro: aposto que são todos falsos.

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