4.11.11

Uns muxoxos de sexta-feira, apenasmente

Sinto minha cabeça vazia feito uma grande bolha de nada.
Me sinto num lapso onde as palavras me saem pelas mãos e não pela voz. Super esquisitíssimo.
É aquela velha historinha que eu sempre choraminguei pelos cantos: é que eu sei, só que eu não sei dizer, não...
Eu adoraria dividir tudo em versos, me ver saindo assim, meio que facetada em rimas ou qualquer coisa que o valha; eu adoraria ter o dom de manejar minhas cordas vocais tipo corda de harpa, de violino, de viola vagabunda... qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo.
Só que hoje não sai nada daqui (só hoje?), acho que se arrebentaram de vez, todas as cordas - e provavelmente por mau uso, já confesso de cara.
E tem gente que me vem correndo pelas beiradas me gritando dicas várias sobre como se dizer as coisas, sobre o que se dizer sobre as coisas.
Sinto muito minha gente, mas no momento minha única e verdadeira questão está mais para "que coisas?".
Que coisas? Não tem coisa alguma, não tem nada, não vejo nada. O Universo se esvaziou pra mim feito balão de festa de semana passada. Ficou murcho e ficou feio e ninguém quer.

Mais ao oeste desse mesmo universo (ou de algum paralelo) existe um riacho que transborda coisas, do tipo de coisas em tons pastéis, do tipo de coisas em si bemol... nunca entendi direito de tons de cores e de tons de músicas. Nem sequer sei dizer o que é cor e o que é música.
Mas o que importa é que nesse riacho tem uma correnteza que é tipo assim um animal, do tipo de animal que é selvagem. Bem isso mesmo.
E é como diz aquele ditado que alguém um dia inventou só pra eu poder copiar agora: as coisas selvagens correm mais depressa.
Meus olhos se brilham todos, se revolvendo no próprio eixo, cheios de admiração para com os animais selvagens e ferozes e cheios de poder e cheios de velocidade e cheios de coisas várias (em si bemol e tons pastéis!)
E o causo é que talvez eu seja só um passarinho doméstico mesmo, nascido e criado em gaiola.
E daí te pergunto: de que é que servem asas ao nati-engaiolado passarinho?
De nada, não serve de nada. Nem de nada e nem pra nada.
Ora, queridinha! Não foi você que me disse que hoje não tem voz? Já viu passarinho sem voz? Em gaiola ou fora dela, tudo que tem pena pia, em si bemol ou que diacho de nota for.
E bom, daí é nesse ponto e meio que por isso que me assumo, não menos que com tristeza, também uma metáfora mais que falha.
Sou e serei sempre só mesmo a da gaiola, tipo aquilo que dizia o Pessoa, e ainda que a portinhola esteja aberta, não tenho mãos para puxar nem pra dentro e nem pra fora.
Sou o passarinho engaiolado que perdeu a voz, simplesmente porque não entendeu que asas e cordas vocais pouco tem a ver umas com as outras.
E o fato é que voar e cantar ao mesmo tempo seria ótimo, mas é privilégio para as aves do tipo selvagem e o fato é, tico-tico engaiolado, que imitar falcão de nada vai te servir num momento como este.

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