29.12.11

Ice

Não existe borboleta na Antártica.
O subsolo esverdeado me dá claustrofobia e curiosamente esse subsolo esverdeado é a minha casa.
De longe alguém inventou uma sequência de notas que canta a superfície, porque de longe é só o que se pode ver: o exoesqueleto do continente.
O subsolo esverdeado é a minha casa e ninguém fez uma música para ele ainda.
É que música não toca debaixo d'água... deve ser bem isso.
Eu também não posso viver debaixo d'água e minha casa é o subsolo esverdeado sem espaço pro ar, minha casa é o lugar onde eu não posso fincar os pés nem permanecer por mais que uma centelha de segundo.
Eles falam de transformação: verme que cria asas e vai embora.
O verme não pode ir embora para a Antártica, e nem eu.
Alguém inventou um jeito de chorar que descreve com precisão as imensidões branco-diamantadas e algumas transparências com quês de azul; e é só a pele: uma casca fina de pó.
Igual minha pele que me serve como enciclopédia de mim: absolutamente não me serve.
E ainda assim é o único hino que tem, ainda assim se for para cantar o gelo a gente canta a brancura mesmo; a gente deixa o verde para lá assim como a gente um dia deixa para lá a casa que é nossa e que a gente simplesmente não pode colocar capacho de boas-vindas para borboletas, a casa que é nossa mas só se a gente fosse outra coisa que não nós mesmos.

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