10.1.12

Tem esse momento esquisito em que você deixa de se assustar com o bicho papão.
O bicho papão ficou banalizado, ele deu as caras vezes demais.
Ele deu as caras tantas vezes que você já fica até esperando por ele na sacada e quando bate as dezoito horas e ele não vem uma pontinha de decepção deságua no seu íntimo.
Você não tem mais medo do velho do saco, você acha até que talvez possa ser uma ideia que ele venha te levar embora.
Pena é que o velho do saco só leva embora as crianças e você já pesa mais de cinquenta quilos - está fora.
É a mesma sensação, eu diria, de quando você vai ao parque e se mede na reguinha da montanha russa e vê que não tem a altura mínima necessária. Salvo uma diferença: a altura mínima necessária você sabe que virá com os anos, é uma questão de paciência, e os quilos a mais (os anos a mais, os centímetros a mais, as experiências a mais, os desabores, desamores, despedaços, estilhaços, coração quebrado a mais) você sabe que não pode perder. Já era!
A vez é da nova leva, a vez é da fruta fresca... você se sente velho.
Você se sente grande, ocupa espaço demais! Não cabe no saco do velho do saco.
Ele não vai te levar embora.
O bicho papão talvez venha amanhã mas pode que seja (como diria o Marco) que ele tenha mais medo de você do que você dele... essa tua cara enrugada e cheia de olheiras!
Você cansou, tuas pernas não correm mais.
Você fica alí esperando e quando ele chegar você sugere uma partida de xadrez, vocês se sentam para assistir tv juntos, fazem panquecas.
Acho que todo homem morre casado com seus medos.

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