15.2.12

Não existe sono, existe o cansaço. Uma noite não-dormida e um estômago vazio e uma janela escancarada pra um mundo alienígena. (Tudo me é alienígena.)
O pensar que existe intimidade e então a percepção do oposto. Qual é o oposto do íntimo?
Sou astronauta sem nave, meu capacete hoje se descolou do resto da armadura, estou em apuros e ninguém vê.
Um debate interno para decidir com qual porcentagem de auto-piedade e com qual porcentagem de mágoa real estou lidando.
Li uma carta com réplica que não cabia aos meus olhos lerem, de papel que era corrosivo às minhas mãos; e teimei e peguei e li e agora estou destroçada e não só meu coração é um "balde despejado" à moda de Pessoa, como também o resto inteiro... se escoando... se der sorte, rumo a um ralo; se não, rumo a avenida para se empoçar e me envergonhar (ou não... o descaso é sempre uma enorme e possivelmente pior possibilidade).
Gostaria de acreditar que as coisas que foram embora foram embora mesmo, mas não me é possível tal façanha tendo que espíritos de idéias existem e persistem e assombram. Idéias reencarnam. Neste sentido pode-se dizer que sou uma crente fiel.

Feito criança impressionada com a sombra da árvore na cortina, tenho medo do escuro e não durmo. Vejo as idéias mortas me puxando pelo pé direto para o inferno, esse inferno solitário de ser consciente. Sorte a do tolo, do burro, do cego. Sorte a da pedra, do mar, da folha que a formiga carcome e carrega. Sorte a do deus, que não existe.
Sorte a do meu travesseiro, que carrega o peso da minha cabeça mas não o sente, tal qual a Terra que se move devagar e infalivelmente para a destruição mas não o sabe e por isso continua girando e pronto.
Nunca sei se chamo as pessoas que continuam caminhando de sábias ou ignorantes. Talvez a sapiência e a ignorância sejam convergentes, talvez eu não seja nem um nem outro, talvez eu esteja à margem; talvez esteja num estado de espírito que envolva exatamente os piores aspectos da sabedoria e da ignorância.
Sempre os piores aspectos.

Um comentário:

  1. Gostei do início e amei o final.

    Eu (sofro de) tenho insônia, pois para viver tenho a necessidade de concluir pensamentos, pensamentos estes, criados a partir de várias questões que insisto em resolver.
    Dormir não é fácil para mim, mas eu amo concluir algo aparentemente complicado.
    As questões mais interessantes, na minha opinião, são as que passam despercebidas para a maioria. Por isso, sou eu, que tenho que resolvê-las, e do meu jeito.
    Isto pode até soar de maneira egoísta, mas é autêntico.

    ResponderExcluir