27.2.12

O problema com quem viveu sob o edredom por toda a vida é que não aprende a diferenciar foguete de meteoro.
Nem tudo o que voa alto vai pra cima. E pra ser realista a maioria está em bruta queda e a gente não percebe porque somos uns pobres coitados deslumbrados.... É isso que a gente é, a gente, os da cabana de cobertor...
Me disseram que eu não tinha mais idade pra juntar cadeira e jogar o lençol, me disseram que casa de gente grande a gente faz com ferro e pedra.
Tentei pegar as pedras mas elas voaram na minha direção feito bombas e as que minhas mãos puderam deter acabaram se esfarelando.
Finquei minhas fundações de aço no solo firme mas o solo firme era um belo de um pântano e agora tudo o que eu juntei não é mais nada além de lixo enterrado no piche.
Tentei ser como eles, eu quis aprender a andar à largos passos, a vestir o traje certo.
E eles podem até entender de trajes mas não sabem nada sobre casas e fundamentos, eles só sabem a superfície, eles não entendem a base.
Sou uma pessoa suja, não nego.
Não tenho graça, não tenho sal, meu super-poder é a camuflagem.
Facilmente posso desaparecer, só é preciso me jogar em uma sala com mais de 3 pessoas.
Eu tentei seguir o manual, pus meus óculos escuros e arranquei fora o pano das cadeiras. Coloquei uma mesa de sinuca no lugar da minha cabana.
(Não sei jogar sinuca.)
Subi no foguete, acenando pro mundo trouxa que ficava pra trás, só que o foguete era uma pedra bruta rumando ao chão.
Me sinto nua, me sinto envergonhada e me sinto embaraçada.
Meu cabelo é uma peruca de nós, tenho vergonha dos meus dentes.
Não sou nada, nunca serei nada e não quero que me descubram...
Não quero que me vejam, quero enterrar minha cabeça no chão de areia e só voltar quando não houver mais nada que tenha olhos e ouvidos para me ver e me ouvir.
Quero reconstruir minha cabana e não voltar mais.
Não acredito mais em manual e não acredito - acho - mais em nada.
Só acredito na minha cabana, na minha armadura à prova de balas e na solidão de quem se esconde debaixo delas.

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