31.3.12

Deixei meu naco restante de miocárdio debaixo de uma ponte fina, e daí choveu pelos dois lados.
Em algum lugar desses por aí tem uma clareira larga no céu e nela o sol mostra a que veio.
Mas sobre a ponte sempre chove.
E eu podia aprender a deixar minhas tralhas dentro de casa, ou num cofre no banco, ou podia andar com elas nos meus bolsos... mas eu largo nos lugares mais impróprios, feito fossem meus rastros.
Não vai sobrando nada de mim...
Vou ficando cada vez menor, uma pedra se dilacerando barranco abaixo.
Da minha lucidez sobrou um pouquinho ridículo do qual ouso fazer uso uns segundos antes de cair no sono (tipo o cara que não tem dinheiro pro feijão, mas que comprou um chocolate e dividiu em 365 farelos).
Da minha visão me sobraram os borrões, das minhas memórias sobraram as inventadas.
Do meu coração, que nunca foi inteiro, eu dei uma metade estraçalhada pro mar (o mar das 5:00), uma outra parte gorda me levaram num assalto ou num estupro ou sei-lá-deus-que-diabo-de-trombada-foi-aquela.
O restinho que ainda tava por aqui eu resolvi largar debaixo da tal da ponte mais esquisita que eu pude encontrar.
Agora ele está pegando chuva e vai morrer de pneumonia, com toda a certeza.
Mas coração não tem pulmão, coração não morre de pneumonia.
Eu e minhas burrices!
Eu e as minhas esquisitices!
Pelo menos um dia desses talvez eu trombe num galho mais firme pelo caminho e ele leve também a minha consciência, e daí eu nunca mais vou pensar em coração e assalto e barranco e rastro.

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