28.3.12

Nada faz sentido. É tudo seco como bola de pó no deserto.
O sol virou um diamante preto e eu não sei o que pensar.
Dentro da minha carcaça ressoam as trombetas mudas pra me avisar do temporal que não virá, do sol que não deixará de ser errado, das pernas tortas, dos pássaros que têm dentes no lugar dos bicos.
Sinto cheiro de mar das cinco da manhã quando ele senta do meu lado.
Mas não existe lado, não existe direção.
O cheiro do mar das cinco é apenas um pensamento (e ele também).
De todas as coisas que se foram as que mais incomodam são as que se foram antes de terem vindo.
Pássaros dentuços mordem fora a pele do meu pescoço.
Os dias me atropelam feito dominó, o sol continua um babaca fantasiado de escuridão.
Não é preciso nuvem nem chuva se o próprio sol abafa a luz.
As cusparadas que eu lanço no meio fio são feitas de pedra moída, rouxinol de dente afiado belisca os meus restos de calcário.
Meu nariz é uma tumba: o ar não passa mais.
Nos meus pulmões o lodo se esparrama a largos passos e eu sinto o engasgo.
O peito não bate, mas o pulso lateja.
Nada pode ser feito, minhas mãos são como cotocos dilacerados e tristes.
Nunca em minha vida fui um objeto tão cheio de vazios, tão inútil.
Um dia a gente aprende que pra ser feliz é preciso não querer ser feliz.
É preciso não ter vontades, é preciso ter sentimentos de máquina de lavar, de carpete, de poça.
Aniquilem, para seu próprio bem, todos os sentimentos de qualquer espécie que seja.
Aniquilem as expectativas.
O sol é um diamante preto e estranho e o mundo todo também... só estranhezas.

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