7.3.12

Não tinha nada a ver com nada.
Era aquela peça estranha do guarda-roupa a que nunca surgiu uma ocasião real de uso, e que, se porventura surgisse, não poderia ser combinada satisfatoriamente com nenhuma outra.
Achava que as pessoas eram boazinhas, achava que as pessoas eram gente-boas, achava que as pessoas eram grandiosas. Mas no fundo a própria verdade é que sabia que as pessoas eram pessoas, independente da categoria, e que isso já era o bastante para abrir um abismo escandaloso entre elas e si.
Não era uma pessoa.
O que tinha talvez era só ares de pessoa, só a superfície, num dia de sorte.
Como a água estacionada da piscina que reflete o sol e impede a gente de ver o lodo do fundo.

Sentava na cafeteria de perna cruzada observando as tais das pessoas com o interesse de quem vai ao zoológico.
Tão diferentes... tão iguais.
Como saber? Eram universos tão separados que chegava até mesmo a ser difícil definir se eram opostos ou gêmeos idênticos.

Certo dia escreveu num guardanapo enquanto comia um croissant e tomava um mate:

"Não entendo, de forma alguma, a tara humana por sentir qualquer coisa que seja.
Amor, ódio, ciúmes, vontade... Tudo isso nos serve apenas de razões para acabarmos a vida transformados nuns amargos recalcados.
Mais me impressionam as pedras e a sujeira do chão. 

Mais me vale o boi do pasto, desinteressado da garoa fina. 
Penso nos sapos e nas aranhas e eles não me pensam de volta.
As paredes não escrevem textos imbecis como este.
A natureza é ruim e é dura e é sábia. 

E o humano é arrogante e só."


Só nos dois sentidos.
Nunca encontrou ninguém e nem nada que soubesse fazer a travessia, que viesse dar um oi mais pra cá... pro lado de dentro.
Quando achou que tivesse feito, foi um engano copioso... como que tivesse dado limões por maçãs.
Como achasse que o sol fosse ente abraçável, embaraçoso como sair pela rua com a camisa ao avesso.
Um engano, como todas as coisas no fundo foram, são ou acabarão por ser.

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