5.3.12

Sobre o lombo e a farofa

Punha mais farofa pelos fundos do porco, como quem tentava encher o espaço vazio do próprio peito.
Enfiava a farofa cada vez mais fundo, cada vez mais farofa... a sujeira se espalhava pelo chão, ninguém varria...
A farofa não tinha sal.
Por vezes apanhava com as mãos em concha um punhado farto daquela areia e enfiava tudo na boca, pra calar algum soluço ou um impulso de gritar.
Daí não sabia como engolir e o estômago ameaçava devolver ao mundo a palhaçada em forma de farelo.
Os olhos se avermelhavam pelas beiradas e prometiam uma gota primogênita para logo, a qualquer momento...
Uma cusparada.
Enfiava mais farofa pelo rabo do animal, trocando o ar por algo mais estúpido ainda... por algo mais feio ainda.
E o lombo era duro como pedra, era velho.
O sol secou o lombo e ninguém quis comer.
Uma hora nesse lombo não vai caber mais farofa...
Daí quando isso acontecer talvez passe a enfiar todo o lixo insosso nos furos do próprio nariz.

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