19.3.12

Plástico Bolha

No começo era a completude.
Todos os espaços estufados, feito peito de nadador campeão.
Todos os espaços preenchidos - que beleza!
Daí a gente pegava nosso coração e embrulhava com carinho antes de dormir.
Pronto!, estava protegido de qualquer chuva, de qualquer projétil, de qualquer mão estabanada.
A gente ia dormir, e aí a gente dormia bem. A gente sonhava alto.
Todo dia era assim, a mesma cerimônia noturna...
Mas aos poucos a coisa foi mudando de aspecto e eu não entendi.
De repente o plástico estava mole, frouxo, largado.
Cada vez mais parecido com um trapo.
Quando me sentia corajosa tirava ele do armário antes da hora pra contar as bolhas que ainda estavam vivas.
Não precisei criar uma planilha pra saber da gravidade do caso.
As estatísticas formavam uma curva com as fuças viradas pro chão.
E aí a minha própria fuça ia também pra lá, pro cimento, que eu não sabia o que fazer com tanta decepção.
De que servia o peito estufado das milhares de bolhas se o peito estava estufado era de ar!?
Ar... banal e patético ar.
Ar. Desse que escapa por aí numa fungada.
Hoje já não consigo achar uma mísera fortaleza que não tenha sido derrubada pelo tempo e pela falta de cuidado.
Nem sei se fui eu, nem sei quem foi... só sei que pisaram.
Ah, se pisaram!
Pisaram, amassaram, estouraram, lançaram cusparadas, sei lá mais o que.
Hoje eu não posso mais guardar nosso coração como fazia antes.
Hoje já não vou mais dormir com os olhos fechados - senão acordo de repente de madrugada e o coração já caiu no chão e já arrebentou de novo.
O plástico bolha vai acabar indo pro lixo, no final das contas.
Logo ele, que tanto foi essencial pros "sonhos altos"...
Mas é isso.
É isso e não tem jeito, não.
E se quer saber, estou mesmo pensando em comprar uma caixa grossa de aço dessa vez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário