17.3.12

Monsgato

Tropecei num gato feio pelo meu caminho.
Ou então foi o gato que tropeçou em mim, porque estou sentindo as consequências de um belo de um chute no baço até agora.
Passa, bicho ruim!
Era eu gritando do meio fio.
E o desgraçado nada, como nem tivesse nunca passado pela minha vida.
Ou então vai ver que é... vai ver que ele nunca passou.
Vai ver que nada nunca passou pela minha vida... devo ter sido eu que passei por aí, pela vida dos outros, a vida dos gatos, dos muros, dos sapatos, das testas franzidas.
Eu que passei por tudo isso!, feito fosse um mosquito de valor nenhum.
Feito fosse aquele chapéu nunca usado que sua tia levou no penhor junto com as jóias e os casacos de pele e que não valia nada e que por isso voltou pra casa da tal da tia, sem alegria e nem tristeza e nem nenhuma porcaria de sentimento.
Eu tropecei no gato mas o gato continuou o percurso e quem teve que parar para tomar o fôlego fui eu.
E já tropecei em um monte de coisas nessa vida (ou foram as coisas da vida que tropeçaram em mim!) mas foi só depois do gato que meu baço começou a inchar.. só depois do gato que eu comecei a ter alucinações sobre mim e acreditar fielmente que sou um chapéu gasto.
O gato deve ter lançado um feitiço nos meus olhos, não sei.. vai saber!
Mas foi por isso que peguei asco do desgraçado.
Por isso que pra mim ele não é mais um gato.
O gato pra mim agora é um monstro.

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