14.3.12

Quero que me enfiem as brumas pelos buracos da cara.
Meus pulmões não querem sabem respirar mais ar.
Agora querem algo mais grosso, mais intoxicante.
Querem algo que preencha melhor, porque o ar escapa fácil... como tudo... como tudo.
Tudo se vai indo pelas calhas até atingir um ralo grande e feio.
Todas as ambições, todos os planos tudo, tudo.
Pelo ralo.
Meus pulmões querem agora um ar que o ralo não puxe.
Minha cabeça pede um pensamento que não seja tão banal quanto todos têm sido...
Todos eles, idiotas e dispensáveis.
Quero que me enfiem pedras duras goela abaixo, que as frutas frescas todas apodreceram.
Meu estômago não se sacia dessas frutas.
A beleza apodrece. É bem isso mesmo.
O que é bom, o que é  vivo, o que tem cor... tudo isso... podre de um dia para o outro.
Minhas pernas agora pedem por calças acinzentadas... o cinza é a melhor opção, que até as pretas se enchem de bolas e até as brancas se enchem de terra. O preto e branco também é fútil e efêmero, tanto quanto são as cores.
Já os cinzas são intocáveis. Como as pedras e como o ar que o ralo não puxa.
Tudo em mim pede por uma gota de eternidade, cada célula,  por uma mísera tábua do cais que não ceda sob meus pés.
Não preciso viver para sempre - até porque isso seria um martírio - mas enquanto viver, gostaria que pelo menos alguma coisa não me fugisse enquanto fecho os olhos para dormir.

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