22.3.12

Sobre inconsistência das coisas

Tudo é nada.
Pela manhã você desenrola uma linha de pensamento matadora.
Nada pode destruir a lucidez que acompanha o pão com requeijão, o cabelo bagunçado e um estado sonolento de pouco caso.
Ali estão as coisas reais, bem ali naquela mesa.
Os surtos noturnos já não são nada, você ri envergonhado quando pensa neles.
Mas aí o leite derramado começa a diluir o papelão de que é feito a mesa.
E o próprio leite é papelão também.
De uma hora para outra, um dominó entornado no seu colo... você é a próxima peça a cair.
E as suas mãos são papelão, do vagabundo, e a sua cara é uma grande máscara pintada com canetinha.
A canetinha a chuva leva embora.
Só que a chuva hoje também é feita de papelão.
Ao meio-dia você está completamente sozinho numa estrada sem asfalto e sem caminho definido.
Uma dor latejando por toda a cabeça: o papelão de que é feito os pensamentos (e as certezas e a lucidez) começa também a se encaminhar para o destino de poça que tudo tem.
Uma poça suja de papel cuspido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário