17.4.12

Posse, Acrofobia e Algumas Outras Paranoias

Passo numa rua e desliza uma moto pela minha esquerda como fosse um trem.
O banco que eu pego todo dia, hoje já pegaram.
Todo dia hoje já pegaram.
Mas o banco ainda é meu por direito. Eu pus meu nome lá, com canetinha, uma certa vez.
E eu fico pensando, eu fico pensando: as pessoas colocam o nome nas coisas também ou sou só eu?
Eu tenho um certo amigo Ziul que me contou uma história sobre um monstro e que escreviam coisas bem na testa desse monstro.
E o monstro obedecia, fosse o que fosse que fosse escrito ali.
O monstro era tipo um Frankenstein e todo mundo a que soldo as minhas etiquetas são meus Frankensteins também - ainda que não saibam disso, ainda que, por eles mesmos,  eles não sejam é merda nenhuma disso. Igual eu.
Fico me perguntando se alguém escreveu alguma coisa na minha testa também... é que nenhum espelho mostra as etiquetas que não foi a gente que botou.
É tipo um raio laser identificador de digitais e tudo aquilo que não veio da gente a gente não pode ver.
E eu queria saber se tem um prego na minha cabeça, porque tem dias que dói ao ponto de os olhos me saltarem da cara.
Eu sinto eles caindo no chão e espirrando cacos de volta no meu nariz e no que sobrou das minhas órbitas.
Foi bem assim, numa queda dessas, que eu descobri que tenho olhos de vidro!
Todo mundo que olhar na direção certa vai ver o que tenho aqui por dentro: a tal da lama e as tranqueiras  que vem junto com ela se a gente se demorar o suficiente procurando, se a gente não tiver nojo de enfiar mesmo a mão e tudo.
O meu banco é meu só no meu mundo.
Os velhos se sentaram alí (hoje foram velhos, ontem foi uma garota gorda) e pra eles o banco é deles.
E se já é difícil ter posse das coisas imagina que traumatizante é achar que a gente é dono de alguém só porque a gente escreveu "Meu" na testa dele e depois descobrir que não é nada disso.
Que o "meu" tem pernas e vai embora, pior que o banco! O banco pelo menos fica alí pra gente olhar...
E a moto já passou e outra já veio e eu etiquetei elas de "trem" porque assim eu quis, porque assim parecia mais emocionante.
Saio etiquetando a vida, tacando canetinha nas testas das coisas, porque a vida como ela é, um monte de coisas andantes totalmente solitárias e alheias e totalmente nadas, a vida assim me faz me sentir como que tivesse as pernas penduradas para fora da janela do vigésimo primeiro andar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário