Quero que ela me diga qualquer coisa para eu acordar de novo.
- Alberto Caeiro
Um dia em que você acorda mas não acorda.
De olho aberto vê o mundo e nada pensa dele.
De olho aberto vê o mundo e nada pensa dele.
As mãos esbarram pelos móveis, as pernas trombam as coisas.
E nada sente.
O corpo inteiro coberto por um escafandro duro e congelado.
Ontem te disseram que você era doce, ou qualquer coisa do tipo.
Só que hoje tudo é insosso dentro da carapaça.
E nada sente.
O corpo inteiro coberto por um escafandro duro e congelado.
Ontem te disseram que você era doce, ou qualquer coisa do tipo.
Só que hoje tudo é insosso dentro da carapaça.
Não é só a Terra: o Universo todo gira, tudo se contorce espasmaticamente.
E em você nada disso.
Em você só mesmo o tempo.
A única sensibilidade pras suas mãos grossas de calo é essa: o tempo.
O tempo fez sucumbirem os outros sentidos.
Tudo é uma bolota de nada almofadado.
Nem cair você pode.
Os ponteiros giram (como tudo) deixando um rastro de piedade.
Nem cair você pode.
Os ponteiros giram (como tudo) deixando um rastro de piedade.
Aquela auto-piedade que você passa a sentir antecipadamente pela sua própria decomposição.
E a auto-piedade é um câncer e você sabe disso.
Mas hoje o escafandro não deixa saírem esses sentimentos.
Nada entra e nada sai.
A lucidez é fracassada, é vil.
Hoje você é inacessível para o mundo, da mesma forma que o mundo sempre foi para você.
Mas hoje o escafandro não deixa saírem esses sentimentos.
Nada entra e nada sai.
A lucidez é fracassada, é vil.
Hoje você é inacessível para o mundo, da mesma forma que o mundo sempre foi para você.
Eu quero que ela - seja ela quem ela for, seja ela o que ela for - me diga qualquer coisa para eu acordar de novo.
Não existe sono pior que o dos despertos.
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