9.5.12

Noir


Do you remember when I knocked upon your door?

Via você por trás do vidro embaçado enfiando na cabeça um chapéu escuro feito o breu. -  tentava esconder o furo da bala que um dia alguém derrubou na sua testa.
Você sempre tentando esconder, não saía mais de casa e nem nada.
(Todo mundo tem vergonha de ser metralhado, e todo mundo acha que é o único.)

Dei três voltas completas ao redor da casa, me equivalia a um cão esfomeado.
E os vizinhos me lançavam sapatadas na cara que era para ver se eu ganhava amor próprio ou ao menos engolia os choramingos.
Meus pés iam se enfincando cada vez mais fundo no chão, um chão que era meio que lama, meio que neve, meio que decepção...
Dá pra um cara grande morrer de fome numa situação dessas.
E eu, magricelas, me punha a devorar os sapatos que me atiravam, me punha a roer os próprios ossos com os olhos debulhados.
E roí tanto tudo o que eu era, que esse mesmo tudo desapareceu; me comi do avesso, virei porcaria inexistente.
E enquanto isso e enquanto aquilo, ainda era (e é) você tentando fazer a aba do chapéu pôr à sombra um diabo de estilhaço imaginário.

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