4.5.12

Sobre as 4

Quatro horas da manhã: hoje é hoje, hoje já é amanhã ou hoje ainda é ontem?
Eu assoviei uma canção na chuva e a chuva era deveras pesada e as minhas notas caíram no chão e escorreram pra um buraco.
Tenho consciência de que não existe uma linha que separa um dia do outro; fiquei de pé no asfalto esperando topar com ela e ela simplesmente não veio.
Tudo continuou como uma curva infinita e despropositada.
Eu continuei: infinita e despropositada.
Não existem marcas, o sono é a marca que a gente cola. O sono é a origem, o ponto de partida, mas não é a gênese.
Não há gênese em esfera.
E os insônes dão de cara com a eternidade giratória, com a pedra única que tudo é.

Dia é só uma ideia. Tempo é só uma ideia.
(Quatro da manhã não é lá nem cá.)
Eu sou só uma ideia.
Ele e ele também são.
Nós e eles e elas e o tempo e as palavras e as construções são contos de fadas que a solidão criou pra distrair a gente de um certo fato doloroso ou outro... dela mesma.

[Fico com medo de que ele escape da minha boca num dia desses de pluviometrias mais nervosas e escorra pro buraco... junto com as minhas cantigas, junto com tudo o mais.]

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