10.7.12

Diário Solar e de Calçada II

Os poetas já falaram tudo.
Tento deter os raios coloridos do sol entre os dedos e eles escapam.
Os poetas falaram sobre o sol já, e sobre como ele escapa...

Tenho raios de ferro coroando minha cabeça.
Eles partem do centro, atravessam o hioide e vão ainda além.
Chegam a um lugar que ninguém nunca deu nome... exceto talvez algum poeta que já morreu; exceto talvez todos os poetas, em tudo o que já disseram.
Eu não sei porque me pego beijando o chão de cimento, acho que minha intenção inicial é sempre só o cheiro... mas essa mania de adoração, essa mania...
Eu te adoro, no sentido mais profundo que isso pode ter.
(Seja lá o que você for.)

Os poetas já falaram tudo o que há para ser dito, os poetas já adoraram cada pedaço do chão.
Os farelos de calcita que eu beijo algum poeta antes de mim já beijou.
Os raios de sol ultrapassam minha capacidade de possuir, e as pessoas também e o chão e as palavras.
Não possuo nada exceto essa insistência em querer, exceto essa consciência da perda que vem quando o sol me abandona beijando o chão no escuro, declamando versos que saíram do coração de outro.
Os poetas me destrincharam nos sentimentos que eles mesmos sentiram, sem saber que o faziam.
Analiso meu coração biopsiado nos corações que eles colocaram às mesas e que eram deles e não de ninguém mais, mas que eu tomei para mim achando que me enxergava ao espelho.
Os poetas falaram de mim, adoradora de migalha, sem nunca terem dito meu nome; sem nunca terem sabido meu nome.

Os poetas já falaram tudo e sentiram tudo.
É por isso que, com certo ódio,  eu me pego a repetir em loops intermináveis toda e qualquer coisa que lhes tenha saído da boca.. essa boca que se parece tanto com a minha.

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