12.7.12

Manhã


Os peixes se escangalharam durante a noite e agora boiam feios na margem... a noite escangalha as coisas.
Sente isso também, sente-se escangalhado, flutuando sem controle algum sobre si, brutalmente carregado por qualquer marola.
A quantidade de areia que voa impede a boca de dizer coisas.
E nem se pudesse... nada deve ser dito.
Vive o táctil.
Sente os ex-peixes acertando as canelas, inconscientes.
Bate a compatibilidade, é "ex-gente". Um "ex-gente" insensível, sem nostalgias: apenas com o sentimento de arregaço seco.
Há esse momento particular da ressaca em que a feiura das coisas escangalhadas é bem-vinda, em que a feiura das coisas escangalhadas se transfigura (quase que) em companhia. E (quase que) isso ameniza a aridez da condição humana...
Enfia a cabeça na água salgada, enfia a cabeça entre as carcaças das corvinas que o sol quer devorar.
Brinca de ser carcaça também, quer ser carcaça também... ter função de acertar canelas e só, e sequer saber disso.
E ser devorado pelo sol... sim, e ser devorado pelo sol.

Nenhum comentário:

Postar um comentário