17.7.12

O Dia do Pombo

Ele pegou o gravador da estante e gravou o pássaro cantando com a voz de outro bicho.
Eu não pude ouvir, por isso ele transmutou o som em desenho e me deu de presente junto com um pedaço de nuvem.
A gente deitou no pedaço de nuvem e dançou juntos (deitados mesmo) exatamente às seis da tarde, mas só era seis da tarde no relógio imaginário que a gente inventou... no relógio real da minha vida era oito da noite de um dia perdido no tempo e no relógio real da vida dele era madrugada de um dia que pra ele também se perdeu.
[Todas as coisas nascem perdidas, só é achado aquilo que a gente cria porque precisa.]
Acordamos sem termos dormido - o clássico verbo de quem permanece sempre suspenso em sonhos.
Os pombos faziam amor no telhado, bem acima das nossas cabeças, e a gente parou pra olhar, fascinados, porque achamos que eles podiam nos ensinar um monte de coisas a respeito de amor e de vôos - e amor e vôos é tudo de que se precisa nessa vida.
Ele disse: "Eu não sabia que pombos eram tão fofos quando estão se amando... Quer ver um filme mudo comigo?"
E a gente viu o filme que passava dentro das nossas próprias retinas e que a gente mandava de volta um pro outro e o filme se repetia porque nossos olhos viraram espelhos que brincam de se encarar.
É bonito quando coisas tão diferentesdistantesimpossíveis conseguem se fundir de repente...
[E no final do filme mudo eu escutei o tal do pássaro de garganta invertida cantar dentro da minha cabeça (coração).]

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