26.8.12

Diário de Calçada e Panorama

Uma grande decepção quando a gente sobe até a plataforma estratosférica e olha pro chão.
A gente tá ali, de coleirinha nas coisas que a gente odeia, com uma rabiola de umas quinhentas latinhas presas no nosso corpo e que a gente vai arrastando e tentando se livrar e que quando mais a gente foge delas mais barulho elas fazem.
A gente tá ali, de frente pro grande show mas sem saber que é tudo encenação.
(De cima a gente vê o que tem atrás do cenário.)
A gente é um coitado cachorro acoleirado numa estaca (que pode muito bem ser uma pessoa) e sem saber.
E a gente vai correndo, correndo, correndo, em círculos infinitos... e a gente sempre acha que está saindo dali e que falta pouco.
Só de cima a gente vê a força centrípeta e a nossa ignorância.

Vi, de cima, uma festa que erguia no céu escuro uma Lua falsa de espelhos; uma festa de meninas perfeitas de batom propositalmente imperfeito. Vi uma festa que comemorava a estupidez - e o problema desse tema é que não era intencional.
Vi uma roda de pessoas em transe sendo o transe algo que já havia se impregnado às suas veias.
Questionei se era mesmo uma festa ou se era um dia como outro qualquer pra eles.

Daí vi a Lua real, caída no chão de uma Lagoa que secou. Atirei ali pedrinhas que nunca mais vão ricochetear e eu sei.
Descobri que não há nada que se fazer às margens de um Lago que agora é abismo, exceto manter uma distância de segurança.
O que um dia foi tipo um Lago Walden hoje é aquilo que a gente vê da nossa plataforma na estratosfera e não consegue mais sequer dar nome.

Um cachorro girando no próprio eixo, cheio de pendências atadas ao rabo: esse somos nós, os alienados que não sentem vontade alguma de uivar pra uma Lua falsa de espelhos. Esses somos nós.
Somos os imbecis fora da realidade, uivando pro reflexo da Lua real num Lago transbordante que a gente guarda na memória.

Um dia o cachorro morre e a coleira cai.

Nenhum comentário:

Postar um comentário