27.8.12

Ora, pessoas corajosas!
Me ensinem um pouco disso...
De pendurar a cabeça num farol, acima de milhares de comboios e gentes e coisas - e ser forte.
Me ensinem como é que faz pra preferir o holofote a um buraco.
Como é que faz para desenxergar todos os poros feios da própria cara?

Cada tico-tico na pitangueira é uma perfeição. 
A nuvem que se enrola por cima da montanha e brinca de mordiscar o topo das árvores o faz com maestria.
Uma formiga carregando um naco de folha nas costas sabe exatamente para onde é que está indo.
Os carros na rua, o vento: todos sabem.
Eu sei?
Não, eu não.
Daí, que direito tenho eu de ter olhos pra olhar a pitangueira perfeita dos tico-ticos perfeitos?
Que que me deu para achar que posso?
Meus olhos desvirtuados e inseguros e tristes deveriam ser banidos do mundo.
Quero desfazer meus passos, remover minhas digitais, desdizer minhas palavras todas...
Tudo o que faço, existindo, é macular o cenário perfeito, a harmonia de tudo o que nasceu no mundo e é do mundo.
Todas as coisas são reais porque querem ser, tem que ser, e sequer pensam nisso e por isso é tudo fácil e é tudo fluente.
Por isso as coisas reais conseguem se pendurar nos postes, nos out-doors e por isso têm alegria - porque não se percebem... 
Ou então se percebem tanto que entendem e aceitam que é parte elementar do sistema fingir que não.
Ora, vocês, meus mestres! 
Me ensinem tudo então...
Me ensinem, porque eu por conta própria só sei desaprender.

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