8.10.12

Sobre os Muros do Labirinto


Confesso. Fui eu quem tacou fogo nas estantes todos os dias num ritual impensado: primeiro porque queria apagar o que lá tinha, fosse o que fosse, e depois porque queria destruir o fogo que eu mesma ateei, como que tentando reparar o erro, e depois porque queria reparar esse erro também: destruir o fogo que destruiu o fogo que destruiu o fogo que destruiu... e assim sucessivamente numa roda infinita de arrependimentos.
Eu quis destruir o fogo com o fogo e destruir a mim com mim, mas no final das contas só fiz multiplicarmo-nos todos. Trocentos fogos e mims, repetidos feito clones, me perseguindo nos sonhos.
E por trás de cada labareda e cada livro destroçado, e por trás de cada curva de rua sonhada, e por trás de cada chuva e cada fio de cabelo encharcado, a pergunta:
A gente ainda pode ir embora se a gente quiser?
(E se a gente puder ir embora, pra onde é que a gente vai?)

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