12.11.12

Diário de Calçada e Suspensão

E você sente o puxão pelas costas... e prenderam teus suspensórios a dois ganchos tão altos... tão altos!
E os pés bambeiam desiludidos, sem um chão.
Chão que sustenta o pé que sustenta a perna que sustenta o corpo que sustenta a cabeça que sustenta o cérebro que sustenta as ideias.
E de repente muda:
Gancho que segura as calças, que segura as pernas, que seguram os pés, que não seguram nada.
E tanta coisa se perdeu na inversão... tanta coisa evaporou, e a sentença diminuiu quase que pela metade...
Restou um bambaleio, uma sensação de injustiça... essa sensação de injustiça que leva os justos a se questionarem até o fundo da alma; que leva os justos a se sentirem, no fim, injustos, merecedores de uma guilhotina, simplesmente para evitar serem eles os que julgam errado.
E os suspensórios firmes, de não tão boa qualidade assim, mas firmes.
E a sensação da eternidade... essa sensação de eternidade que leva os homens, tão perecíveis, a se projetarem num infinito que dura o instante de uma dor.
E começa uma chuva fina, e as gotas pingam pelos cadarços mal amarrados formando uma poça particular.
E você se enxerga: nem da terra e nem do céu.
"Nem de deus, nem do diabo."
E percebe que todos os homens já nasceram com os colarinhos agarrados nos próprios ganchos invisíveis.

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