9.11.12

Sobre o Movimento do Carrossel

Eles puseram uma lona de cabo a rabo pelo teto do carrossel.
Não disseram nada, foram-se embora.
Eu fiquei guardada lá dentro, junto com os falso-cavalos e um pernilongo que também foi pescado pela aleatoriedade da situação.
Mas aí ele achou um buraco.
Não disse nada e foi embora também.
Fiquei lá dentro agora só com os falso-cavalos que tinham a tinta descascando e uma estaca cravada no peito que partia do base e chegava até o céu de plástico... (e se ainda fosse o céu de verdade!)
A única direção que os falso-cavalos tinham era um pra frente circular, um "pra sempre de volta"; e a única direção que eu tinha era essa também, já que eu não pude passar pelo furo que o pernilongo passou.
E a gente girou, eu e os meus falso-cavalos, a gente girou como uns imbecis...
E o mundo lá fora fazia barulho de alegria e de conversação, e o mundo lá fora fazia barulho de vida, mas a gente girava como fossemos os ponteiros de um relógio enterrado fundo debaixo da terra.
A gente não servia pra nada, e o nada não servia pra gente.
O dourado dos cavalinhos já caia pelo chão, feito areia, e o meu vestido amassado tinha um botão faltando.
Subi em cima do mais acabado dos quinze pangarés e abracei o mastro como marinheiro contemplando naufrágio.
Mayday, Mayday...
Perdemos outro botão e um dos cavalos acabou de perder um olho...
E se continuarmos girando assim amanhã já não sei mais o que é sucata e o que sou eu.


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