25.11.12

Sobre Coisas que Caem

Não há retorno pros pássaros desabados: eles permanecem revirados, barriga pro céu, piado mudo.
Os olhares estatelados contemplam o movimento das nuvens e as nuvens, em réplica, lhes atravessam os reflexos como fossem sombras em preto e branco.
Os pássaros caídos caem porque caem, caem como canivetes num dia surpreendente, caem cobrindo cada milimetro de chão, caem fazendo camadas e camadas de penas e olhos aflitos (e nada além de penas e olhos aflitos), caem como gotas que formam poças.
E as cumulonimbus se acumulam e fazem chover cada vez mais dessas causas perdidas, e essas causas perdidas contam cada nuvem que atravessa os olhos como quem contasse carneirinhos pra chamar o esquecimento mas só conseguisse trazer mais carneirinhos e cercas.

[ É num dia cinza que a gente olha pro chão, afasta a fumaça do cigarro-anestesia e vê que "caralho... já somam mais de um milhão! o que é que a gente faz com isso agora?" ]

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