27.12.12

Eu vi um sabiá fêmea carregando os destroços de uma minhoca e não sabia se era pra aplaudir ou chorar. O bom e o ruim estão contidos no tudo, metade-metade. Sabiá voou e deixou espaço pro espaço em branco com o qual eu já lidava antes de ele chegar. Um assovio e um comichão no estômago e aí é não poder mais evitar o nada - porque ele não desiste. (A gente só mata o nada se souber usa-lo de prato principal.)
Por causa do tédio as palavras uniram forças: fui alí comendo a manhã de dentro para fora e foi por isso que a tarde nasceu espremida dentro de mim. Tive febre, das boas, e o pêndulo do meu relógio interno foi ajustado pra me esporrear ao invés de se conter. A cada soco Júpiter se aproximava mais da Lua, mas acho que ele já esteve lá antes e eu também já estive e eu não achei que isso fosse tão importante assim. (A gente cresce na direção das desimportâncias porque aprende que no final das contas tudo é muito tanto faz.)
Por causa do tédio as palavras unem forças: o sol me esporreia as costelas no escuro feito cachorro nervoso guardado em saco de batata.
E, mais: Amanhã eu vou vomitar o nascente atrás de uma montanha reta feita de espuma e sal.

Será que fica mais fácil falar as coisas se elas não tiverem nome nenhum?


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