11.12.12

Miolo ao Alho e Óleo

As paredes que sempre foram verdes de repente roubaram o amarelado que vinha das janelas.
E as janelas sempre foram muito sem-lá-muita-cor e eu pensava por isso de onde é que elas haviam roubado o amarelo por sua vez então.
Do dia é que não tinha sido, já que já não era mais cedo, já que não tinha nem mais sol, nem nada... depois das sete e aquele amarelo de meio-dia nublado num hospital abandonado pichando tudo com essa exata sensação: um hospital para malucos desertado mas com lembranças estampadas na parede, daquele tipo de lembrança que ninguém sabe ler, mas que todo mundo sente muito bem.
Eu me sentei numa banqueta de cristal pra reviver coisas que não foram vividas e nem vão ser, as coisas da realidade paralela que eu não escolhi porque a suposição dessa parecia melhor.
Não sei se nessa tal outra realidade paralela eu estou agora mesmo sentada numa banqueta parecida com a minha e encarando uma parede amarelada fantasiada de verde e revivendo o que eu vivo nessa realidade presente, ou se simplesmente tudo deu muito certo e não há nada a ser contemplado exceto o que há de fato, bem debaixo dos nossos narizes e sujeito ao toque e a experiência.
O dia inteiro foi um puro mormaço cerebral, como uma sauna configurada em temperatura baixa pra manter os tontos lá dentro por mais tempo.
Depois o desmaio pelo tédio e aí a temperatura sobe quando já não dá mais tempo de escapar.
Esse calorzinho de começo de noite de verão que ronda e faz a gente querer algo que não sabe nem o que é...
Talvez fosse um vento ou talvez fosse a vontade de sentir vontades reais; de sair e fazer e ser.
Não vou me levantar da banqueta-prisma e olhar pelo basculante pra saber qual é a fonte do amarelo - já tenho bastante certeza que essa fonte é o meu cérebro, e eu não quero chegar lá pra ver minha memória suando como um leitãozinho coitado que não acha sombra e aí só faz fungar, fungar, fungar e fungar o chão estupidamente e a troco de nada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário