"Qual é a coisa que é pior do que a espera?"
Você disse, e ia andando com um saco repleto de nada em direção a algum ponto mais estratégico.
É que as flores de abril não têm cheiro de flor...
E o vento venta de dentro pra fora, um expiro intenso e trêmulo de quem estava se segurando o tempo todo, com todas as forças tentando nãoser.
Você disse assim, murmurado pra um agrupamento de pedrinhas, que "nada é pior do que esperar".
E se sentou do lado delas como quem vai contar uma história mas suas histórias não começam com "Era uma vez..." mas sim com "Ai quem dera fosse uma vez..." e pensando nisso você achou melhor deixar pra lá.
Nenhum ponto na solidão da montanha é mais estratégico do que o pico, bem exatamente onde todo mundo quer chegar. É pra lá que todo mundo acha que vai...
Mas você achou que as pedrinhas valiam uma estada de alguns dias e que a estrada lá pra cima vale umas boas fotografias e vale, quiça, um nome no jornal... mas isso te dá um enjoo, bem aqui no centro do tórax, uma vontade de correr na direção oposta. Mas você não corre e nem descorre, fica no seu canto esperando alguma coisa surgir por trás da árvore e te fazer gargalhar infinitamente... despreocupadamente... e esquecer tudo.
Tinha uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma pedra.
Qual é a coisa que é pior do que a perda?
Qual é a coisa que é pior do que a espera?
Esperar o que já se perdeu!
I'll miss the thing by waiting for it., o Kafka disse.
E deve ser essa a sua sina, cidadão saco de vento... deve ser esse o seu intento.
Esperar esperar esperar esperar...
As flores de maio pode ser que tenham cheiro de manacá de verdade.