15.7.13

As mágoas sedimentaram e ficaram quebradiças e a gente não sabe porque a gente nunca mais (nunca mais) vai encostar nelas de novo. A gente falou pra gente que as mágoas são passado. É passado. A getne não é muito convincente. Às vezes a porta entre meu escritório e a rua fica escancarada e eu vejo o sol atacando o cimento e ele é tudo o que eu quero pra mim, mas só que vai ter que esperar. Pra meio-dia ainda faltam umas horas. Eu não consegui ainda - entre espinhos, nuvens, porradas e apertos - descobrir o nome da sensação. Um gelo em chamas com grandes poderes de sucção entrou algum dia (ou nasceu) entre as minhas costelas (um pouco mais acima) e talvez isso seja eu, ou talvez não. Eu queria que o passado fosse tão invisível quanto o futuro. Eu me vesti de corvo, eu me vesti de águia, eu me vesti de pardal, eu me vesti de tangará-desmarestis (uau!).. E eu nunca consegui fingir bater asas e por isso ninguém acreditou. Não encontrei aquilo me pediram pra eu encontrar, porque esqueci o que era no meio do caminho. Puxa, eu tinha tantas coisas a dizer mas uma cerca espetada me trava o pensamento e eu continuo a frase num murmurro tão baixo que nem eu posso escutar. A gente não pode dizer as coisas que a gente quer, seja por uma razão ou por outra. E isso me deixa puta. A gente nunca mais vai tocar as mágoas de novo, nem pra ver se estão vivas, a gente jura.

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