18.2.16

A gente sente uma brisa que desliza pelas pernas e sopra uma melodia no ouvido: uma menina que canta com batom vermelho e o olho cheio d'água.
A gente comprou um ticket de trem sem olhar o destino e agora a gente se lança a vapor rumo a um futuro nebuloso-fragmentado.
Tudo o que vem na minha cabeça é um homem prateado sem rosto e sem impressões digitais que me olha como se esperasse de mim qualquer coisa que seja que eu não sei nem imaginar o que possa ser.
Eu vejo pedaços de papel fino queimado de contorno incerto caindo do céu e acho que alguma coisa explodiu lá no alto mas não fez barulho nem teve importância... mas eu sei. Eu sei porque eu sinto os pedacinhos dos restos do que quer que fosse lá em cima entrando dentro da minha pele.
A gente sente um vento contínuo gelado cobrindo nossas costas como fosse um cobertor e a manhã é toda clara e toda branca, como se ela quisesse que a gente mesmo fosse lá e desenhasse o contorno das nuvens.

Um comentário:

  1. As suas palavras me lembram as palavras de um homem que eu, um dia, amei. Eu não as lia, copulava com elas. Em mim havia uma vereda de carne por onde atravessavam as suas letras.

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