17.2.16

Tenho que contar a história de uma casa que ainda não existe, uma casa cujo endereço foi escrito em tinta de silêncio. O tempo lacrou as entradas em um momento que não é nem lá nem cá e eu olho pras minhas horas e elas se comem umas as outras e me deixam de mãos vazias...
Eu sou um urso, uma fúria, um fiapo, uma idéia daquelas que a gente tem no banho e depois, por mais que tente, não consegue se lembrar.
A minha casa nova (que não existe) é um lugar onde a hera cresce solta e a madeira do chão submergiu numa camada grossa de poeira branca. A minha casa nova tem um furo no telhado que a natureza fez pra que eu pudesse ver a lua e não prorrogar isso jamais.
(Eu uivo uivo uivo e nunca viro loba, mas um dia eu vou virar.)
A minha casa nova (que não existe) é onde eu vou sentar pra construir máquinas feitas de suspiros, que no fim do dia vão desaparecer dentro de sonhos repetidos; é onde eu vou coletar formigas e alinha-las como me convier; é onde eu vou olhar por um buraco e ver o meu rosto inteiro lá do outro lado, muito sorridente, dizendo que nada foi em vão e que no fim das contas eu existi sim. Eu existi.


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