26.2.11

Sobre aqueles que tentam nos medir

Eles chegam com suas balanças dizendo o peso do nosso nome, eles carregam nos bolsos do casaco  espessímetros afiados para determinar a profundidade das nossas almas.
Eles mantém suas fitas métricas ao alcance das mãos para que possam enfatizar qualquer mudança na distância entre nós e o nosso céu.
Eles tiram o nosso sangue enquanto a gente dorme para dizer nos jornais sobre as nossas origens, e eles se prostram sob nós apenas porque querem ver melhor se nossos pés criaram raízes (que nunca serão de bom tamanho, sempre serão longas demais ou curtas demais).
Eles sacam as tesouras e aparam as nossas garras porque o noticiário determinou que elas são longas demais.
Eles olham nossos bicos com desdém e medem o tamanho da mordida com as próprias cabeças... (e a gente, que nunca morde!?)
Eles colocam placas a milhas e milhas de distância e nos pedem para ler, para daí por fim concluir que nossos olhos não são dos bons. Eles querem penhorar as nossas córneas vagabundas por coisa melhor: o milho que eles nos darão de comer, após medir o tamanho da nossa fome e concluir que somos gananciosos demais.
Eles instalam aparelhos de segurança em cada esquina, para que os tais esperneiem alto ao menor indício de que estamos levando mais do que podemos carregar ( e a gente que tinha comprado um carrinho de mão já pensando nisso fica a ver navios).
Um dia eles vão olhar para trás e aí vão descobrir as tantas tesouras, e as tantas linhas, e os tantos compassos e as tais das fitas métricas correndo despercebidas ao seu encalço e preparando um dociê daqueles.

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