20.3.11

O Jantar está esperando por você

Colocava primeiro a toalha branquíssima e com cuidado posicionava os pratos e talheres e guardanapos.
Daí acendia muitas, muitíssimas velas perfumadas, e só então trazia as flores.
Lindas.
Olhava pra elas e pensava...
Pensava bastante que era uma grande pena que elas nunca resistiam a noite inteira... pena é que a lua se alimentava da vitalidade delas (!)... pena é que logo logo só restariam os espinhos de pé.
E era aí que as pétalas derramadas na mesa iriam começar a manchar o branco (tão cuidadosamente escolhido) de todas as cores intrometidas e vulgares que misturadas não passavam de um belo borrão tom de merda.
Mas felizmente também em breve se esgotaria a parafina das velas e antes que você chegasse meus fracassos se tornariam irreconhecíveis, e então finalmente quando isso acontecesse tudo já teria sido tragado pela escuridão e já não haveria mais nada a ser visto... nem o bom e nem o ruim.
E nem eu.
Por isso (ou por descaso?) você então passaria direto por nós - eu e meu carinho e minhas expectativas - e capotaria no sofá encardido num pulo só.

[E quem me dera eu pudesse realmente conjugar tudo isso somente no futuro do pretérito.]

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