29.8.11

Aviária I

Tipo o ovo que não chocou no meio da festa dos pintinhos, eu me sento numa cadeira ao canto com aquela delicadeza brusca de um revoltado que sabe que a causa da revolta não procede.
Tipo a bomba relógio que não explodiu, o ovo-que-era-para-ser-pintinho só marca as horas e vê elas passando e faz as contas pra ver quantas ainda hão de passar enquanto os pintinhos festejam não se sabe bem o que - provavelmente o fato de serem pintinhos.
Ser pintinho não é tão glorioso assim quanto parece, que o que é que o pintinho faz afinal?
Pintinho pia, pintinho cisca, pintinho tem pena.
Pena de quê? Que pena? Como assim "pena"? Pena do ovo?
Pára, ovo... pára! Pára que não é dessa pena que eu to falando, não!
Mas como explicar pro ovo como é que são as penas dos pintinhos? Ovo não é pintinho, ovo não sabe o que é pena. Não vê pena, não toca pena, não sente a pena.
O ovo faz as contas e queria que faltasse menos horas pra festa dos pintinhos terminar, que ele tá cansado de sacolejar no próprio eixo pra fingir que sabe interagir.
E ainda sobre as penas: tipo o ovo que queria ter pena também mas só tem casca dura suja de terra, eu me levando devagar e boto um pé na frente do outro fingindo uma porção de coisas! Como se os pintinhos piadores realmente percebessem o que é que o ovo finge ou o que é que é realmente a verdade sobre ovo, lá dentro.
Tem casca grossa entre o que há dentro do ovo e o mundo das piadas dos pintinhos.
E o ovo até ri, o ovo até ri. Nas o ovo não entende a piada, o ovo não escuta a piada, o ovo tem casca! O ovo não é pintinho... o ovo deveria ser pintinho, mas o ovo deu errado. O ovo é só ovo e sua carapaça dura e inconveniente e a promessa de que um dia vai virar qualquer coisa melhor que aquilo que é agora.

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