23.9.11

Toca do coelho

Espiei o mundo lá fora por debaixo da fresta da porta do banheiro.
Eu não acendi a luz quando entrei, e era noite.
Estava tipo querendo experimentar a realidade...
O basculante era grande demais, a lua entrava inteira (abusada) e ainda assim meus alguns metros azulejados eram drasticamente mais escuros que a luz artificial que se espremia pelos 5 centímetros entre minha porta e o chão gelado.
Tentei mandar a um alguém uma mensagem telepática... mas o sinal ali devia estar fraco - ele não me respondeu.
A luz lá de fora suprimia a necessidade da Lua.
Engraçado como o artificial é bem mais bem sucedido.
Engraçado...
Aliás, pensando bem não tem graça nenhuma.
Eu aqui, crua, sentada desajeitada sobre a tampa da privada, me sinto o avesso da tecnologia.
E quando digo tecnologia não digo computadores, não... digo gente mesmo.
Eles lá do outro lado da fresta entendem o idioma do manual..
Eu não.
Minhas mensagens telepáticas são o sumo da minha obsoledade: eu e minha cisma com telepatia e entendimento sem palavras estamos mais que enterrados neste ano aborrecido de 2000 e lá se vai fumaça.
Eu e minhas bruxarias sentimentais só cabemos neste banheiro e dessa porta pra fora só dá pra passar uma de nós.
Confesso que por mim fico eu.

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