11.10.11

Jardinagem

Abri meus olhos pela manhã mas só acordei agora, às vinte e duas e três.
Penso agora, então acordada, que quem dera fosse eu uma das quatro rosas.
Ou talvez uma número cinco, se não fosse pedir muito.
Penso que quem dera tivesse eu também despetalares tão bonitos assim, desses de deixar rastro de cheiro no chão...
Não nasci flor, porém. Nasci gente:
Meu despetalar é de pensamentos...
E é que pensamento não tem cheiro nem nada.

As quatro rosas se dispõe em linha reta a quatro palmos do meu nariz, suspiro-lhes.
Penso que são todas da mesma cor, só que de cores diferentes.
É bem isso mesmo.
Se estendem nas extremidades das pétalas, tipo um meio que um repuxo de olhos orientais.
Bate um vento e elas balançam, mas permanecem.
Quem dera fosse eu uma das quatro rosas.
Bate um vento e eu entorto, bate chuva e eu enferrujo, bate frio e eu estrago.
Em dias de sol, empeno.

Nasci mortal - o tipo de mortalidade que rosa não tem.
Quando é que rosa acaba?
Rosa se dilui, não perde o sopro vital em nenhum momento específico, que eu saiba.
Já a mim, me dirão a hora da morte com precisão de nanosegundos.
E meu legado é tão pálido quanto minha cara de defunto.

Não deixarei rastro de cheiro, tal qual as quatro rosas enfileiradas; só rastro de coisas por fazer.
Essa é a minha herança: o "deveria ter sido" ou, na melhor das hipóteses um verbo mais camarada.
Poderia.

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