"Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos?"
(Pablo Neruda)
E ele está maravilhoso mesmo de fato, mas é totalmente externo.
(E o máximo que pode fazer por mim é me queimar a pele.)
Eu gostaria de dizer: todas as coisas me satisfazem - exceto uma.
E o problema todo é que essa uma pesa dez mil vezes mais que todas as outras:
Não estou nem perto de satisfeita.
Me armaram um banquete farto, mas só de folhas de alface...
E o prato principal (o verdadeiro enche barriga) ficou para algum dia desses aí.
Acordei morrendo de fome, ao ponto que começo a roer os pratos e as paredes.
Diz-se que há essas pessoas que se alimentam do sol e hoje eu gostaria de dizer para elas o seguinte:
Foda-se.
Ninguém pode se nutrir de sol, é preciso muito mais!
Brilho não é suficiente, é preciso algo especialmente elaborado para o nosso organismo.
Sinto falta do meu prato principal.
Talvez seja aquele tipo de coisa que a gente vira a noite pensando só porque não pôde abocanhar.
Porque a verdade é que em todos os outros dias também não tivemos prato principal, mas pelo menos havia o cheiro e havia a promessa.
Eles vinham até mim e eles diziam: Pode ser que... talvez possamos... temos possibilidades de... é viável que...
E ainda que o final da frase fosse carcomido pelos ruídos do mundo e dos problemas eu entendi que era só uma questão de tempo até que esse algo triunfante viesse calar os gritos do meu estômago vazio, do meu âmago vazio.
E a grande verdade, amigos, é que idéias e esperança também são boas preenchedoras de sacolas (diferentemente do Sol, eu garanto!).
Mas é como eu disse: dessa vez não houve promessa alguma, só uma negativa! Um "parece que não teremos".
E, puxa!, parece mesmo que barriga tem ouvidos... acordei de boca selada mas com o corpo inteiro aos berros.
Minhas mãos se recusam a pegar as coisas, meus pés não sabem mais o significado da palavra "passo".
Eu nunca me senti muito alguém que pudesse se classificar "ser humano" e sempre tive esse desejo mais que latejante de me tornar uma pedra algum dia logo de uma vez, mas hoje eu não sou ser humano e eu não sou pedra e eu nem sequer posso dizer que "não sou nada" como sempre tive ânsias de enfatizar.
Hoje eu sou um alienígena, uma minhoca, um parasita.
Não sei exatamente o quê, mas certamente algo bem grudento e repulsivo... algo deprimido e rastejante.
Gostaria de dizer o quão maravilhoso o sol está hoje e o céu azul e coisa e tal e todas as coisas girantes e lindas e sempre felizes apesar de.
Mas só me escapam arrotos e roncos famintos, virei uma máquina de sentir
Pensamento come as coisas?
Vai ver que sim... porque raras foram as vezes que tive nas minhas mãos e na minha boca meu prato farto de comida, mas agora o universo cisma em me apresentar a bandeja vazia e me dizer que "sinto muito senhorita, mas acabou."
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