29.2.12

Capra

A gente achou um lado da Terra que era inclinado demais.
Disseram pra gente que era uma montanha e que estava ali que era pra gente aprender a fazer curvas.
Mas a gente não caiu nessa. A gente achou que montanha era objeto que ensinava a subir, a ficar mais alto, a ficar mais perto das nuvens. Talvez coletar umas estrelas...
A gente pôs um pé na frente do outro, com as línguas para fora ofegantes como uns desgraçados cães.
A gente passou umas noites (todas elas) à céu aberto, vendo os sinais de fumaça dos índios e os chineses que tentavam construir uma muralha mais alta que nossa montanha.
A gente aprendeu código morse, porque a gente não falava o mesmo idioma.
Mas daí eu batia no seu peito como quem bate à porta do céu, e você nem sempre abriu.
Acho que nossas escolas usavam livros diferentes afinal de contas.

Às vezes quem sobe montanha acaba achando que é mais rápido subir de costas.
Eu te via cheio de si, tropicando morro a cima com os calcanhares cheios de bolhas.
Ainda não sei se você tinha medo do que vinha pela frente ou se é só o tipo de cara que faz as coisas por fazer mesmo... assim, porque deu vontade.

Hoje a gente chegou num patamar reto e tudo o que tem adiante é um paredão vertical.
Não há como fazer curvas tão alto assim...
Agora ou a gente sobe, mesmo correndo o risco de cair feio, ou a gente desiste e deixa as estrelas por aí pra próxima dupla coletar.

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