27.2.12

Segundo eles, mais ao norte (na parte congelada) existe um laboratório e nesse laboratório existe uma saleta com caixas grandes de madeira de feira.
Segundo eles, nas caixas eles guardam todo o tipo de coisa que a sociedade não sabe o que fazer; todo tipo de coisa que não pode ser enterrada, destruída, assassinada, que não pode ser lançada no espaço sideral, que não pode ser depositada em lixões de material radioativo, que não pode se decompor por si só.
Eu queria poder jogar lá dentro todas as minhocas que começaram a devorar meu peito de dentro pra fora, como se eu já tivesse morrido.
Eu disse pra elas e pra deus que eu ainda não morri e que ainda dói, que eu adoraria virar comida de bichinho mas que ainda não. Porque eu ainda to aqui e o meu corpo ainda tem febre, porque ainda me sai sangue e meu coração ainda ameaça parar de bater (só o suspense alfinetante mesmo).
Na última semana eu fui visitar o mar e enfiei minha cabeça contra o fundo de areia que era pra ver se matava as minhocas por afogamento.
Mal-sucedida e com o cabelo pingando sal fui até a beirada de um vulcão pra ver se havia jeito que se dar por lá, mas elas não morrem nem por fumaça e nem por fogo também.
Queria poder jogar elas dentro das caixas do laboratório porque não sei mais ser sua hospedeira e suspeito que não tenha mais grandes coisas a serem devoradas aqui dentro.
Eu quero que elas vão embora, mas não consigo fazer elas irem...
Sempre que as empurro mais pra frente quem cambalhota um passo adiante sou eu.
Vai ver que eu sou elas, vai ver que eu fui reduzida à isso então.
Eu quero que eu vá embora... quero que eu vá embora de mim e não volte mais.
Quero deitar numa caixa que me caiba e ficar lá adormecida com todas as outras coisas que ninguém sabe o que se faz também.
Nunca fiz par com seres humanos, eu não entendo como é que um ser humano funciona.
Vai ver que é porque eles têm engrenagens e órgãos e cordas de piano plenamente afinadas e tudo o que eu tenho são minhocas. Tudo o que eu sou são minhocas.

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