27.2.12

Um dia eu caí no chão e alguém pôs o pé de sapato mal engraxado na minha goela antes que eu pudesse me levantar.
Toda vez que dou o impulso o sapato me aperta contra o chão. Não consigo respirar, não consigo soltar sequer um grunhido.
Me sinto fraca e cedo e caio.
Aí me lembro que tenho braços e pernas e tento dar um chute ou um soco, mas o sapato é rápido demais... ou vai ver que são vários! Vários sapatos com sola de esgoto...
Meu braço, minha perna, minha cabeça e o meu coração são imediatamente inutilizados, me sinto uma cobaia presa a uma cama de cimento. Pior.
Me sinto uma cobaia presa a uma cama de cimento e esquecida, nenhum experimento vai ser feito, só estou aqui por estar... meramente porque fiquei.
E não existe chance. Vou ficar aqui envelhecendo presa ao chão enquanto vejo os donos dos sapatos tomando a água gelada que era pra mim...
Olhando de baixo todos eles parecem monstros. Ora, vai ver que eles são mesmo.
Monstros bem vestidos e de alvarás variados em suas maletas para garantir o direto de pisotear.
Me sinto como quem prendeu a cabeça entre balaustres de ferro e não sabe mais como é que se tira, como é que se salva.
Fico com vontade de chorar, mas chorar só me molha o rosto e me incha os olhos.
E isso serve pra que? Pra que que isso serve?
Fico aqui presa, angustiantemente presa, até que os sapatos e os balaustres decidam que eu não valho a pena nem pra bullying.

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