5.3.12

Me pego tomando vinte banhos num dia, propositalmente esperando o leite esfriar para ter que esquentá-lo novamente.
Me deito na varanda e me dou quinze minutos de sol para cada cinco minutos de realidade.
Existe gente que se esforça para matar o tempo, mas meu alvo para um eventual assassinato brutal seria o pensamento.
O sol se afoga na rebelião das nuvens, uma massaroca cinza, e meus quinze minutos viram sete.
Entre quinze e sete, se sobressaltam os oito faltantes e esses tais oito faltantes se derramam do céu direto na minha cabeça tipo pingos navalhados, tipo raiozinhos em miniatura carregados de clarividência.
O pensamento é imortal, tão imortal quanto as nuvens que escondem o sol.
E o sol é o coração, que não pensa nada, nem vê nada, só é...
Atiro pedregulhos nas nuvens e todos me caem na cabeça.
Atiro pedregulhos nas idéias e todos retornam feito bumerangue.
Por isso continuo com meus banhos. Continuo indo ao banheiro lavar as mãos sem necessidade, continuo penteado o cabelo já penteado e varrendo migalhas inexistentes do chão... comendo os dias pela beirada mesmo, como se um dia o pensamento fosse encher o saco da minha vida vazia e tomasse um trem pra vida de outro.

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