3.4.12

Fome II

Fui deitar pensando nas raridades.
Soube de um moleque que passou quinze anos sem música.
Um dia soltaram ele na floresta e o primeiro passarinho que passou cantando ele meteu na boca e engoliu.
Soube de uma mulher bem casada que passou a vida toda sem amor.
Um dia o carteiro passou e piscou um olho por causa de um cisco. Ela arrancou o olho do carteiro e pôs numa redoma de cristal.
Soube de mim que passei as últimas milhares de noites sem poder sonhar lá grandes coisas.
Quando deu umas quatro da manhã um vento passou e falou que podia sonhar sim senhora...
E daí que o dia amanheceu e eu não preguei o olho, e daí que acho que nunca mais vou pregar, que vai saber que é que eu faço comigo mesma agora que os portões liberaram uma brechinha dessas?

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